segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Botafogo dourado, vermelho, azul, amarelo...

Destaque no empate contra o Corinthians, Seedorf comemora um de seus gols

O Botafogo jogou contra o Corinthians, pela 26ª rodada do Brasileirão 2012, vestindo uma camisa dourada, fato inédito na história do clube. Pessoalmente, achei o uniforme muito bonito. A única crítica é o excesso de camisas de jogo. No mundo inteiro, geralmente vemos times tendo até o uniforme nº3. Como o Glorioso já tem as camisas toda preta e toda branca, este espaço parecia preenchido. Mas no futebol atual, sempre vale tentar ganhar uma “graninha” a mais (a camisa custa cerca de 200 reais) certo? É o que acontece...

Esquecendo essa história de 3ª ou 4ª camisa, imagino que alguns tradicionalistas não tenham curtido muito o uniforme dourado. O fato de não levar as cores do clube, por exemplo, pode contrariar alguns torcedores. No entanto, historicamente, o Botafogo já atuou diversas vezes com camisas que não tinham nada a ver com sua história nem com suas cores.

O exemplo mais fácil de se lembrar é a final da Taça Teresa Herrera de 1996, quando o Glorioso venceu, nos pênaltis, a Juventus de Del Piero, Vieri, Deschamps e Cia. Antes de a bola rolar, houve uma confusão em torno das camisas a serem usadas, já que ambos os clubes são alvinegros – inclusive, a Juve foi a inspiração para o uniforme do time de General Severiano. No final das contas, o Glorioso jogou com a camisa do time anfitrião, o La Coruña, da Espanha, e venceu a poderosa equipe italiana, após um emocionante 4 a 4 no tempo normal. Também teve a camisa cinza, marcada para sempre na goleada de 6 a 0 sofrida para o Vasco, no estadual de 2010. Depois daquele jogo, com treinador novo, o Botafogo se ajustou e conquistou o torneio.

No entanto, a primeira vez na qual o Glorioso atuou com um uniforme que não tinha nada a ver com suas cores foi no longínquo ano de 1923, em um amistoso contra o Americano. Como não possuía uniforme reserva (somente na década de 1970 o clube passou a contar com a segunda camisa, toda branca) o Alvinegro jogou com a camisa do Andarahy, toda verde. Dez anos depois, no dia 7 de maio, o Botafogo enfrentou o Engenho de Dentro, pelo Campeonato Carioca, e goleou o adversário – que tinha uniforme listrado em azul e branco – por 5 a 1 atuando com uma camisa completamente vermelha.

Em jogo válido pelo torneio Roberto Gomes Pedrosa, em 1968, o Botafogo foi derrotado pelo Grêmio, no Maracanã, usando uma camisa azul. O uniforme do time gaúcho (azul, preto e branco) se confundia com o do Alvinegro. O bizarro é que, dentre tantas cores, logo o azul, que também aparece na camisa do Grêmio, foi escolhido para vestir o Botafogo. A camisa era da Adeg, administradora do Maracanã. Em 1975, o Botafogo já contava com o uniforme reserva, mas jogou de amarelo na vitória por 3 a 1 sobre o Paysandú, no Campeonato Brasileiro. A camisa era da Suderj.

*Informações tiradas do livro “A história das camisas dos 12 maiores times do Brasil”, de Paulo Gini e Rodolfo Rodrigues

domingo, 1 de julho de 2012

Nasce uma nova gigante entre as seleções


A cena se repete: Casillas levanta mais um troféu para a Seleção espanhola
A Espanha foi campeã europeia em 1964 contando com uma grande geração de jogadores, que incluía, dentre outros nomes, o meia-atacante Luis Suárez. Depois disso, com exceção do ouro olímpico em 1992, a vida da Roja foi marcada por fracassos. A cada nova eliminação, a mesma frase: “jogou como nunca, perdeu como sempre”. Faltava sempre alguma coisa. Quando era apontada como favorita nas competições, deixava um rastro de dúvidas. O fracasso parecia ser uma certeza.

A incerteza sobre a capacidade da Espanha perdurou até a final contra a Alemanha, na Euro 2008. O gol de Fernando Torres, que deu o título aos espanhóis, exorcizou os fantasmas e fez com que os jogadores aprendessem a lidar com o favoritismo defendendo a seleção. Na Copa do Mundo de 2010, a Fúria chegou como grande candidata ao título – e favoritas antes de copas geralmente não conseguem um grande final. Na África do Sul, as atuações não foram as mais belas, mas a Copa foi parar nas mãos do capitão Casillas. Os espanhóis rompiam, ali, com o estigma de amarelões e entravam indiscutivelmente no hall das grandes seleções do mundo.

Enquanto curtia o “novo patamar”, a Seleção espanhola também viu seus principais jogadores sendo protagonistas em suas equipes, e não somente defendendo Real Madrid ou Barcelona. David Silva, autor do primeiro gol na goleada por 4 a 0 sobre a Itália na final da Euro 2012, é um dos mais queridinhos do Manchester City, e foi fundamental na campanha do título inglês dos Citizens.

Nesta Eurocopa que acabou de terminar, os espanhóis conquistaram pela terceira vez o troféu. Igualaram-se à poderosa Alemanha em número de títulos europeus (são as maiores vencedoras). É a primeira seleção a vencer consecutivamente o torneio. O time de Vicente Del Bosque confirmou mais uma vez seu favoritismo, e mostrou muito futebol e frieza na decisão contra a pesadíssima camisa da Itália. Tornou-se uma gigante.

Sim, uma gigante. A esquadra de Iniesta, Xavi, Silva, Casillas e Cia. é uma das seleções mais vitoriosas de todos os tempos. Três títulos de tamanha grandeza só foram conquistados de maneira direta pela Seleção italiana na década de 1930: foram dois Mundiais, em 1934 e 1938, e uma Olimpíada, em 1936. Na época, o ouro olímpico valia MUITO MAIS do que hoje. Mas vale o registro de que, em 1934, quando levantou em casa a Jules Rimet pela primeira vez, a Azzurra contou com a ajuda da arbitragem, influenciada pelo Duce Benito Mussolini.

Os feitos da Fúria e de seus jogadores já estão na história. Os gols e belas jogadas poderão ser vistos no YouTube, e lidos em publicações que serão lançadas. É uma das maiores seleções do mundo e da história do futebol.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Bardo Cervejeiro: 2ª rodada do Brasileirão

A segunda rodada do Brasileirão 2012 de uma maneira estupidamente poética


Sábado:

No Engenhão, R10 marcou de pênalti
Na comemoração, para a torcida, fez até um dengo
Mas sua displiscência no meio-campo
Custou a vitória ao Flamengo.

Náutico e Cruzeiro empataram sem gols
Com um juiz nada sábio
Distribuiu cartões, deixou o jogo feio
Belas, só as defesas do Fábio.

No Canindé, Portuguesa e Vasco
Um clássico lusitano
Em um lance, um cruzamento
E a bicicleta mais bonita do ano

Dragão um, Macaca um


Outro jogo com golaço
De voleio, Bida arriscou
E depois correu para o abraço

Domingo:

Contra o Coxa, o Botafogo triunfou
Com Lucas inspirado, e um inexperiente Dória
É o líder do Brasileirão
Será que voltaram os dias de glória?

Fluminense e Figueira
Empataram no Engenhão
O Tricolor Carioca até ia bem
Mas se complicou após uma expulsão

O Galo venceu o Corinthians
Gol de cabeça, méritos de Danilinho
Focado na Libertadores
No Brasileirão, o Timão está um timinho

Também de olho na América
O Santos recebeu o Sport de Pernambuco
Um zero a zero sonolento
Quem achou o jogo bom, só pode ser maluco

 Duelo tricolor no Morumbi
De um lado o São Paulo, do outro o Bahia
Luís Fabiano mostrou seu faro de artilheiro
Agora, chega de brilhar na lavanderia

No Olímpico, Grêmio e Palmeiras
Luxemburgo versus Felipão
André Lima marcou para os gaúchos
E ninguém empatou para o Verdão

Pouts,,,


sábado, 12 de maio de 2012

Ucrânia recebe a Eurocopa e relembra o "Jogo da Morte"


O mês de junho marca o início de mais uma Eurocopa. O maior torneio de seleções da Europa terá como sede Polônia e Ucrânia em sua 14ª edição. Dentro das quatro linhas, serão diversos países em ação; desde as favoritas Espanha, Alemanha e Holanda; passando pelas tradicionais Itália, Inglaterra e França e deixando sempre espaço para uma grande surpresa. Fora dos gramados, porém, uma história volta à tona. Há setenta anos, um time de futebol criado na Ucrânia levantou a moral do povo que sofria e sangrava com as atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Esta equipe foi o FC Start.

INÍCIO:

Jogadores do FC Start (camisas escuras) e os alemães do PGS (de branco): foto tirada no dia da vitória por 6 a 0

Formada em sua maioria por jogadores do poderoso Dínamo de Kiev, a equipe representava uma padaria¹. O dono do local, o tcheco Josef Kordik, empregou diversos atletas que estavam perdidos – alguns à beira da morte – na Kiev tomada pelos nazistas. Kordik desejava montar seu próprio time, e um encontro casual com o goleiro Nikolai Trusevich foi o pontapé inicial do projeto. Trusevich, reticente no início, aceitou o desafio e recrutou seus companheiros de Dínamo, além de outros três jogadores do Lokomotiv de Kiev. O mais importante para aqueles atletas, naquele momento, era a segurança que o trabalho na padaria lhes proporcionava em relação aos poucos outros que sobravam na cidade sitiada.

Pouco antes da ocupação nazista completar um ano no território ucraniano, os alemães afrouxaram o rigor no toque de recolher e nas regras de deslocamento para cidades vizinhas. Além disso, eventos esportivos foram liberados. O campeonato de futebol seria disputado por seis equipes, e o FC Start, recheado de estrelas, não ficaria de fora. A primeira partida foi contra o Rukh, e a vitória foi acachapante: 7x2. Nas partidas seguintes, o time da padaria, rubro como o sangue que vinha sendo derramado, reiterou sua força e deu aos kievanos um motivo mínimo para sorrir. O povo passou também a alimentar esperanças de salvação quando os rumores da derrocada nazista em Stalingrado chegaram. O FC Start já era uma dor de cabeça para os alemães.

Cartaz de anúncio da "revanche"

Os nazistas passaram a levar o torneio mais a sério, mas continuaram levando uma surra do FC Start. O time da padaria venceu o PGS (time composto por soldados de uma unidade militar alemã) por 6 a 0 e depois venceria os húngaros do MSG por 5 a 1 e 3 a 2. Aquilo tudo estava indo longe demais. Os alemães apostaram, então, todas as suas fichas no Flakelf, time formado por soldados das baterias antiaéreas e da Luftwaffle (a força aérea nazista). Resultado: 5x1 para o FC Start. No dia seguinte, centenas de cartazes já anunciavam a revanche. Um golpe sintomático que mostrava, definitivamente, que as coisas já estavam muito sérias.



O “JOGO DA MORTE”:

FC Start e Flakelf (de branco) perfilados antes da partida que entrou para a história do futebol ucraniano

O jogo, realizado 72 horas depois do primeiro encontro, lotou o estádio Zenit, onde o Start jogava. O Flakelf recebeu reforço de jogadores mais habilidosos, e ainda contava com um oficial da SS (a polícia especial de Hitler) como árbitro. A partida começou muito nervosa. O Start se recusara a fazer a saudação nazista para a tribuna de honra do estádio. Em um dos lances, Trusevich saiu para fazer uma defesa, recebeu um chute na cabeça e desmaiou. O juiz não fez nada, a não ser esperar o goleiro voltar a si. Poucos minutos depois, o Flakelf abria o placar, mas ao final do primeiro tempo o Start já tinha revertido o marcador para 3 a 1. No intervalo, um outro oficial da SS entrou no vestiário dos ucranianos, elogiou a perícia do time e disse que o Start não poderia esperar a vitória. Alertou que os atletas avaliassem as consequências. Os jogadores do Start não se importaram. Venceram por 5x3, e ainda se recusaram a fazer um gol ao final do jogo, humilhando ainda mais o adversário³.

O APITO FINAL:

A retaliação não foi imediata. Os nazistas não queriam dar mártires aos ucranianos, e ainda deu tempo para o Start vencer o Rukh por 8 a 0 na semana seguinte. O dono o Rukh, humilhado, fez coro para a prisão dos atletas do time da padaria, que seriam levados para o comando da Gestapo para serem interrogados e espancados. Quem mais sofreu nas mãos da Gestapo foi meia Korotkykh que, por ser um oficial ativo da NKVD (precursora da KGB soviética), foi separado de seus companheiros e torturado até a morte. Logo depois, os demais foram conduzidos para o campo de concentração de Siretz.

Monumento em homenagem aos jogadores

Em Siretz, Trusevich e seus companheiros passaram pelo inferno que muitos outros já haviam passado nos campos de concentração. O ponta Goncharenko² e o defensor-treinador Sviridovsky conseguiram fugir de Siretz, mas souberam antes que três de seus companheiros (Trusevich, Klimenko e Kuzmenko) haviam sido mortos. Antes de levar o tiro fatal, o goleiro Trusevich gritou alto: “Krasny Sport ne umriot” (“O esporte vermelho nunca morrerá”). O exército de Stálin retomou Kiev em 1943. Antes do início da guerra, a cidade tinha uma população de cerca de 400 mil pessoas. Quando a luta terminou, eram apenas 80 mil sobreviventes. Neste ano, aproveitando os 70 anos da partida e a Eurocopa, foi lançado um filme inspirado na história do goleiro Trusevich. O longa "Match" (trailer, aqui) ilustra, de maneira fantasiosa, como teria sido a história dos heróis ucranianos.








¹ Khlebzavod: uma fábrica de pães, já que o estabelecimento é muito diferente do que estamos acostumados a ver por aqui.

² Quando a guerra começou, Goncharenko teve a preocupação de guardar suas chuteiras e camisas de futebol, pois acreditava que o esporte iria prevalecer mesmo no meio do conflito. O tempo provou que ele estava certo, quando foi chamado por Trusevich para integrar o FC Start.

³ Klimenko driblou grande parte da defesa adversária, inclusive o goleiro. Quando chegou na linha do gol, virou-se e chutou a bola para o meio de campo.