terça-feira, 29 de maio de 2012

Bardo Cervejeiro: 2ª rodada do Brasileirão

A segunda rodada do Brasileirão 2012 de uma maneira estupidamente poética


Sábado:

No Engenhão, R10 marcou de pênalti
Na comemoração, para a torcida, fez até um dengo
Mas sua displiscência no meio-campo
Custou a vitória ao Flamengo.

Náutico e Cruzeiro empataram sem gols
Com um juiz nada sábio
Distribuiu cartões, deixou o jogo feio
Belas, só as defesas do Fábio.

No Canindé, Portuguesa e Vasco
Um clássico lusitano
Em um lance, um cruzamento
E a bicicleta mais bonita do ano

Dragão um, Macaca um


Outro jogo com golaço
De voleio, Bida arriscou
E depois correu para o abraço

Domingo:

Contra o Coxa, o Botafogo triunfou
Com Lucas inspirado, e um inexperiente Dória
É o líder do Brasileirão
Será que voltaram os dias de glória?

Fluminense e Figueira
Empataram no Engenhão
O Tricolor Carioca até ia bem
Mas se complicou após uma expulsão

O Galo venceu o Corinthians
Gol de cabeça, méritos de Danilinho
Focado na Libertadores
No Brasileirão, o Timão está um timinho

Também de olho na América
O Santos recebeu o Sport de Pernambuco
Um zero a zero sonolento
Quem achou o jogo bom, só pode ser maluco

 Duelo tricolor no Morumbi
De um lado o São Paulo, do outro o Bahia
Luís Fabiano mostrou seu faro de artilheiro
Agora, chega de brilhar na lavanderia

No Olímpico, Grêmio e Palmeiras
Luxemburgo versus Felipão
André Lima marcou para os gaúchos
E ninguém empatou para o Verdão

Pouts,,,


sábado, 12 de maio de 2012

Ucrânia recebe a Eurocopa e relembra o "Jogo da Morte"


O mês de junho marca o início de mais uma Eurocopa. O maior torneio de seleções da Europa terá como sede Polônia e Ucrânia em sua 14ª edição. Dentro das quatro linhas, serão diversos países em ação; desde as favoritas Espanha, Alemanha e Holanda; passando pelas tradicionais Itália, Inglaterra e França e deixando sempre espaço para uma grande surpresa. Fora dos gramados, porém, uma história volta à tona. Há setenta anos, um time de futebol criado na Ucrânia levantou a moral do povo que sofria e sangrava com as atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Esta equipe foi o FC Start.

INÍCIO:

Jogadores do FC Start (camisas escuras) e os alemães do PGS (de branco): foto tirada no dia da vitória por 6 a 0

Formada em sua maioria por jogadores do poderoso Dínamo de Kiev, a equipe representava uma padaria¹. O dono do local, o tcheco Josef Kordik, empregou diversos atletas que estavam perdidos – alguns à beira da morte – na Kiev tomada pelos nazistas. Kordik desejava montar seu próprio time, e um encontro casual com o goleiro Nikolai Trusevich foi o pontapé inicial do projeto. Trusevich, reticente no início, aceitou o desafio e recrutou seus companheiros de Dínamo, além de outros três jogadores do Lokomotiv de Kiev. O mais importante para aqueles atletas, naquele momento, era a segurança que o trabalho na padaria lhes proporcionava em relação aos poucos outros que sobravam na cidade sitiada.

Pouco antes da ocupação nazista completar um ano no território ucraniano, os alemães afrouxaram o rigor no toque de recolher e nas regras de deslocamento para cidades vizinhas. Além disso, eventos esportivos foram liberados. O campeonato de futebol seria disputado por seis equipes, e o FC Start, recheado de estrelas, não ficaria de fora. A primeira partida foi contra o Rukh, e a vitória foi acachapante: 7x2. Nas partidas seguintes, o time da padaria, rubro como o sangue que vinha sendo derramado, reiterou sua força e deu aos kievanos um motivo mínimo para sorrir. O povo passou também a alimentar esperanças de salvação quando os rumores da derrocada nazista em Stalingrado chegaram. O FC Start já era uma dor de cabeça para os alemães.

Cartaz de anúncio da "revanche"

Os nazistas passaram a levar o torneio mais a sério, mas continuaram levando uma surra do FC Start. O time da padaria venceu o PGS (time composto por soldados de uma unidade militar alemã) por 6 a 0 e depois venceria os húngaros do MSG por 5 a 1 e 3 a 2. Aquilo tudo estava indo longe demais. Os alemães apostaram, então, todas as suas fichas no Flakelf, time formado por soldados das baterias antiaéreas e da Luftwaffle (a força aérea nazista). Resultado: 5x1 para o FC Start. No dia seguinte, centenas de cartazes já anunciavam a revanche. Um golpe sintomático que mostrava, definitivamente, que as coisas já estavam muito sérias.



O “JOGO DA MORTE”:

FC Start e Flakelf (de branco) perfilados antes da partida que entrou para a história do futebol ucraniano

O jogo, realizado 72 horas depois do primeiro encontro, lotou o estádio Zenit, onde o Start jogava. O Flakelf recebeu reforço de jogadores mais habilidosos, e ainda contava com um oficial da SS (a polícia especial de Hitler) como árbitro. A partida começou muito nervosa. O Start se recusara a fazer a saudação nazista para a tribuna de honra do estádio. Em um dos lances, Trusevich saiu para fazer uma defesa, recebeu um chute na cabeça e desmaiou. O juiz não fez nada, a não ser esperar o goleiro voltar a si. Poucos minutos depois, o Flakelf abria o placar, mas ao final do primeiro tempo o Start já tinha revertido o marcador para 3 a 1. No intervalo, um outro oficial da SS entrou no vestiário dos ucranianos, elogiou a perícia do time e disse que o Start não poderia esperar a vitória. Alertou que os atletas avaliassem as consequências. Os jogadores do Start não se importaram. Venceram por 5x3, e ainda se recusaram a fazer um gol ao final do jogo, humilhando ainda mais o adversário³.

O APITO FINAL:

A retaliação não foi imediata. Os nazistas não queriam dar mártires aos ucranianos, e ainda deu tempo para o Start vencer o Rukh por 8 a 0 na semana seguinte. O dono o Rukh, humilhado, fez coro para a prisão dos atletas do time da padaria, que seriam levados para o comando da Gestapo para serem interrogados e espancados. Quem mais sofreu nas mãos da Gestapo foi meia Korotkykh que, por ser um oficial ativo da NKVD (precursora da KGB soviética), foi separado de seus companheiros e torturado até a morte. Logo depois, os demais foram conduzidos para o campo de concentração de Siretz.

Monumento em homenagem aos jogadores

Em Siretz, Trusevich e seus companheiros passaram pelo inferno que muitos outros já haviam passado nos campos de concentração. O ponta Goncharenko² e o defensor-treinador Sviridovsky conseguiram fugir de Siretz, mas souberam antes que três de seus companheiros (Trusevich, Klimenko e Kuzmenko) haviam sido mortos. Antes de levar o tiro fatal, o goleiro Trusevich gritou alto: “Krasny Sport ne umriot” (“O esporte vermelho nunca morrerá”). O exército de Stálin retomou Kiev em 1943. Antes do início da guerra, a cidade tinha uma população de cerca de 400 mil pessoas. Quando a luta terminou, eram apenas 80 mil sobreviventes. Neste ano, aproveitando os 70 anos da partida e a Eurocopa, foi lançado um filme inspirado na história do goleiro Trusevich. O longa "Match" (trailer, aqui) ilustra, de maneira fantasiosa, como teria sido a história dos heróis ucranianos.








¹ Khlebzavod: uma fábrica de pães, já que o estabelecimento é muito diferente do que estamos acostumados a ver por aqui.

² Quando a guerra começou, Goncharenko teve a preocupação de guardar suas chuteiras e camisas de futebol, pois acreditava que o esporte iria prevalecer mesmo no meio do conflito. O tempo provou que ele estava certo, quando foi chamado por Trusevich para integrar o FC Start.

³ Klimenko driblou grande parte da defesa adversária, inclusive o goleiro. Quando chegou na linha do gol, virou-se e chutou a bola para o meio de campo.